Depois de o periódico Providence Journal reproduzir o artigo do nosso colega de C4SS Chad Nelson sobre as violações da quarta emenda da constituição dos Estados Unidos, que garantem aos cidadãos proteções legais a mandados arbitrários de busca e apreensão (“Marathon Security Violates Constitution“, 20 de abril), o leitor Rick Hawksley respondeu em uma carta ao editor que Nelson “parecia mais preocupado com traficantes de drogas do que com a saúde e o bem-estar de seus vizinhos”.
O acirramento da guerra às drogas, da guerra ao terrorismo e de outras guerras ao povo americano estão ligados a um crescimento igualmente agudo do autoritarismo em nossa cultura. Para a mídia popular, por exemplo, como afirma Richard Moore (“Escaping the Matrix“, Whole Earth, verão de 2000), “direitos são uma piada, os acusados são sociopatas desprezíveis e nenhum criminoso jamais é condenado com justiça a não ser que algum nobre policial ou promotor dobre um pouco as regras”.
A mim sempre era impressionante ouvir a sequência de entrada da série Lei & Ordem, em que o narrador nos ensinava que “na justiça criminal, há dois grupos separados embora igualmente importantes: a polícia, que investiga os crimes, e os promotores, que processam os criminosos”. Em primeiro lugar, eu sempre afirmei que deveriam dizer “os acusados” e não “os criminosos” — embora alguns aparentemente não entendam a diferença. Em segundo lugar, onde estão os advogados e júris, que — mesmo nos livros infantis sobre cidadania — devem representar a sociedade ao evitar que policiais e promotores corruptos prendam pessoas quaisquer com base em falsas acusações, depoimentos mentirosos e evidências plantadas ou fabricadas?
A carta do Sr. Hawksley é um exemplo gritante dessa tendência cultural abjeta.
É comum entre direitistas que pretensamente favorecem a “ordem pública” igualar as proteções procedimentais contra policiais com a proteção dos criminosos que eles querem condenar, ou igualar os direitos de devido processo legal a “direitos dos criminosos”. Não, Sr. Hawklsey. Esses direitos protegem todos nós. Nelson claramente deseja que seus vizinhos estejam protegidos de invasões sem mandado de suas casas por policiais que estão com os dedos coçando para apertar os gatilhos, sob a desculpa de que estão lutando contra o “terrorismo” ou contra as “drogas”.
Muito mais americanos — desarmados — foram baleados ou tiveram suas cabeças arremessadas contra o chão por policiais (“Não resista! Não resista!”) depois de serem neutralizados do que foram mortos por terroristas. Histórias assim parecem surgir diariamente hoje em dia: uma pessoa negra desarmada leva um tiro da polícia — às vezes tentando se render, às vezes fugindo, às vezes com o policial plantando uma evidência no cadáver após o assassinato.
Como o Sr. Hawksley, eu quero me sentir seguro. Eu imagino que minhas chances de ser morto em um ataque terrorista sejam quase nulas. E mesmo se o perigo fosse significativo, as medidas de “segurança” que Hawksley celebra são, em geral, apenas teatro — são inúteis porque geram milhares de falsos positivos para cada ameaça genuína que é identificada. Eu não tenho medo do terrorismo. Mas, mesmo sendo branco, toda vez que eu vejo uma viatura da polícia no meu espelho retrovisor, eu tenho medo. Você realmente diria que não tem?