Em discurso recente à Mortgage Bankers Association, o senador americano Ben Sasse — um calouro republicano do estado do Nebraska — jocosamente acusou sua colega Elizabeth Warren de pretender remover todo o risco da economia. Presumivelmente, ele pretende dizer que Warren quer proteger as pessoas comuns de riscos como financiamentos habitacionais com pagamentos insustentáveis graças à redução inesperada de seus rendimentos, ou de pagamentos maiores do que o valor das casas financiadas, graças à quebra do mercado imobiliário.
Porém, ele deveria ganhar um Nobel pela audácia de acusar Warren de pretender eliminar os riscos, uma vez que ele estava falando para representantes de um setor que deu origem à expressão “grande demais para quebrar”. O governo federal gastou centenas de bilhões no resgate da indústria bancária simplesmente para salvá-los das consequências dos próprios riscos que tomavam. O programa TARP do governo dos EUA, sob a tutela tanto de Henry Paulson quanto de Timothy Geithner, pretendia evitar a deflação dos ativos das classes rentistas através da compra de títulos de financiamentos ao valor nominal. Isso era basicamente idêntico ao que Alexander Hamilton fez no primeiro governo de George Washington, quando pagou os empréstimos para a guerra revolucionária pelo valor de face, apesar do fato de que seu valor de mercado havia diminuído a uma pequena fração daquilo e de que os investidores que os possuíam naquele momento os haviam adquirido a um preço muito baixo dos compradores originais. Claro, embora fosse perfeitamente aceitável que o governo resgatasse os bancos às custas dos pagadores de impostos, era absurdo que ele colocasse condições ao resgate, como fixar os valores aos preços correntes no mercado ou limitar os bônus pagos a CEOs. Veja bem, essa seria uma intervenção ao livre mercado.
É realmente esquisito que Sasse fale como se a eliminação dos riscos fosse tão ruim, dado que a socialização dos riscos e dos custos operacionais das corporações, junto com a privatização dos lucros, é a principal atividade do estado capitalista. O historiador da New Left Gabriel Kolko cunhou o termo “capitalismo político” para descrever o estado regulatório assistencial do século 20. O capiatlismo político, para ele, é “a utilização de canais políticos para atingir condições de estabilidade, previsibilidade e segurança — isto é, a racionalização — na economia”. Isso implica na ação política para restringir a competição de preços a níveis gerenciáveis, permitindo que as grandes empresas façam planos com base em expectativas de longo prazo e criando um ambiente político-econômico racional em que as empresas possam auferir “lucros razoáveis” no longo prazo.
Toda a nossa indústria tem os contornos atuais porque o estado — tanto sob égide de uma economia de guerra permanente quanto por conta de programas “progressistas” como a criação dos sistemas de aviação civil e de rodovias interestaduais — assumiu grande parte dos custos e riscos dos investimentos nas novas indústrias, além de ter formado cartéis regulatórios para domar a competição, restringir as variações de preço e facilitar a troca de patentes.
O estado, em suma é — como Marx o descreveu mais de um século atrás — o comitê executivo da classe dominante capitalista. A socialização dos riscos e custos, para que os interesses corporativos privilegiados possam coletar seus lucros monopolísticos, é a principal atividade do estado. Ninguém deve saber disso com maior clareza do que Sasse e os banqueiros que pagaram 100 dólares por um lugar para ouvi-lo. Mas imagino que a “remoção do risco”, para Sasse, só conte quando ela é feita em prol dos mais pobres.