O jornal L.A. Times recentemente fez uma reportagem sobre os treinamentos de golfinhos e leões marinhos pela Marinha americana como parte de sua aparentemente infindável estratégia de guerra global. A Marinha espera que as capacidades biológicas desses animais permitam que eles encontrem minas submarinas de inimigos e nadadores em “áreas restritas”, a quem os leões marinhos prenderiam “placas de mordida“. Embora a Marinha alegue alimentar, cuidar e interagir com mamíferos marinhos, eles são, mesmo assim, capturados e removidos de seus habitats, colocados em situações perigosas e potencialmente mortíferas. Apesar de todos os contra-argumentos de que os animais sentem prazer nessas tarefas e têm inclinações naturais executá-las, está claro que eles não estariam inclinados a se envolver em atividades que os matariam naturalmente. É mais um triste exemplo da longa história de governos colocando em risco animais como parte de suas atividades letais.
O filme de 2011 de Steven Spielberg Cavalo de Guerra trouxe à tona o problema dos animais em tempos de guerra. Porém, ao que parece o cavalo de guerra Joey não foi o único animal vendido para batalha durante a Primeira Guerra Mundial. De acordo com um relatório de 2014, cerca de 9 milhões de animais morreram durante a Primeira Guerra Mundial. O que é mais triste é que muitos deles foram forçados a entrar nos campos de batalha como parte dos esforços de guerra de ambos os lados. Entre eles estavam pombos-correio, falcões, canários, cães, cavalos, mulas, burros e gatos. Quando as potências Aliadas descobriram que pombos-correio poderiam passar informações a respeito das posições inimigas para bases distantes, os alemães utilizaram falcões para matá-los. Algumas criaturas de quatro patas receberam tarefas diferentes, como levar correspondências, farejar bombas, transportar mantimentos e limpar os ratos das trincheiras e navios. Vários relatos a respeito dos animais na Primeira Guerra os descrevem como heróis involuntários, mas poucos questionam o barbarismo dessa prática.
Os animais não se deram muito melhor na Segunda Guerra Mundial. Em uma semana na Grã-Bretanha em 1939, aproximadamente 750.000 animais domésticos foram mortos. Uma diretiva foi emitida pelo governo britânico dizendo que todos os animais “não-essenciais” deveriam ser destruídos, uma vez que seriam um obstáculo aos esforços do país. Um obstáculo porque o racionamento governamental não era capaz de acomodar comida e mantimentos para animais. Assim, os donos de animais os mataram em massa. Aqueles que não conseguiam obedecer o decreto simplesmente soltaram os animais nas ruas para que eles tentassem sobreviver por conta própria.
Os animais de zoológico no mundo todo também foram mortos ou passaram fome durante a Segunda Guerra Mundial. No livro Japanese Wartime Zoo Policy: The Silent Victims of World War II (em português, “Política japonesa para animais em tempo de guerra: As vítimas silenciosas da Segunda Guerra Mundial”), Mayumi Itoh explica que talvez nenhum outro país tenha sido tão abrangente no extermínio de animais raros e ameaçados de extinção quanto o Japão. Esse extermínio não ocorreu apenas em zoológicos japoneses, mas também em colônias do país como Taiwan e Coreia. Itoh afirma que a motivação japonesa para os abates em massa era fazer com que os cidadãos mostrassem seu sacrifício, além de garantir a segurança pública.
A Guerra do Golfo, um conflito que não é normalmente visto como longo ou particularmente destrutivo (por aqueles de fora do Oriente Médio, pelo menos), também vitimou grande parte da população animal do Golfo. A morte indiscriminada de animais começou antes mesmo do início da guerra, quando os EUA e seus aliados na Arábia Saudita bombardearam camelos beduínos nativos que vagavam pelo deserto. O caos continuou durante a guerra, quando populações nativas do deserto foram continuamente bombardeadas e tiveram seus habitats destruídos por veículos militares. Outros animais marítimos e aves sofreram muito com os derramamentos de óleo no Golfo e com as fumaça tóxica liberada no ar com os enormes incêndios. Como na Segunda Guerra Mundial, os animais de zoológicos sofreram destinos terríveis, vários brutalmente torturados pelo exército iraquiano.
Cães ainda são amplamente utilizados pelos exércitos americano e britânico nas guerras atuais no Oriente Médio. No Afeganistão e no Iraque, os cães são primariamente utilizados para localizar bombas em estradas. Esses cães farejadores são tão valiosos que existem várias instalações dedicadas ao treinamento de animais somente para esse propósito. Eles podem servir por até dez anos — depois dos quais geralmente eles acabam com síndrome canina de estresse pós-traumático, se tiverem a sorte de sobreviver. Apesar da tragédia que ocorre na vida de muitos dos cachorros e seus criadores humanos, com quem eles desenvolvem laços próximos, muitos desses humanos estão ansiosos para continuar a arriscar as vidas de novos cães mesmo depois de testemunhar as mortes violentas de seus outros parceiros. Como em tantas tragédias de guerra involuntárias, cães nem sempre morrem em combate. Em 2011, catorze cachorros morreram em uma caminhonete sem ventilação em Houston, Texas, aguardando o transporte para o Afeganistão. Eles haviam sido criados e treinados para uma situação de risco, mas foram mortos antes mesmo de começarem sua jornada.
O elemento humano da tragédia pode ser trágico, mas os animais também sofrem muito. Não podemos nem imaginar quão completa foi a destruição para os animais em guerras como a do Vietnã, onde os efeitos do agente laranja e das minas enterradas ainda estão presentes. Para os animais, não existe planejamento, não há onde se esconder e não é possível escapar do terror das guerras humanas. Embora os cidadãos tenham pouca voz nas guerras de seus governos, os animais não têm nenhuma. Eles devem viver com a devastação causada pelos humanos sem protestar. O que é ainda mais infeliz é que as retrospectivas sobre animais durante as guerras normalmente se limitam a falar de suas contribuições ao esforço de guerra, Há poucas críticas a seus assassinos humanos. Para aqueles que realmente se importam com os animais, é necessário adotar uma firme posição antiguerra. Eles realmente são as testemunhas mais inocentes da mácula humana que é a guerra.