Neste momento, os mesmos nomes de sempre se unem em júbilo com o anúncio oficial de Hillary Clinton de sua candidatura à presidência (apesar de que qualquer um que ainda achasse que ela não havia se decidido provavelmente também acredita em Papai Noel). Eu falo dos supostos “progressistas” que realmente acham que a divisão entre vermelho e azul representa uma discordância real entre princípios em questões como o poder corporativo, a agressão militar americana e a construção do império. Para eles, só precisamos votar em um político de centro-esquerda (o que significa exatamente um milímetro à esquerda do centro) e os Estados Unidos retornarão aos bons tempos do rei Franklin Delano Roosevelt, as pessoas virão antes dos lucros e os fuzis se tornarão arados.
Muitas dessas pessoas enxergam a agressão militar americana e a captura corporativa do estado como algo que começou em janeiro de 2001, quando George W. Bush começou a desfazer todas as conquistas progressistas da administração Clinton. Como os lacaios de Hillary Clinton James Carville e Lanny Davis incessantemente repetiam nas primárias às campanhas de 2008: “O que você não gostou na administração Clinton: a paz ou a prosperidade?”.
Claro, a ideia de que Bill Clinton tenha sido qualquer coisa senão um fiel oficial daquilo que Marx chamou de “comitê executivo da classe dominante capitalista” é risível. Os fundamentos da economia corporativa neoliberal como a conhecemos, tanto dentro como fora do país, foram estabelecidos em seu governo. Ele apoiou e patrocinou a infraestrutura básica de controle corporativo global — o NAFTA, a Rodada do Uruguai do GATT, a Lei de Telecomunicações e a Lei dos Direitos Autorais do Milênio Digital. A terceirização das manufaturas, resultado dessas legislações, e a explosão nos salários de CEOs ocorreram em sua administração. Além disso, ele entrou em uma série de guerras nos Bálcãs para estabelecer o domínio corporativo na Sérvia e sua Lei Antiterrorismo de 1996 foi um aperitivo à chamada Lei Patriótica dos EUA.
Hoje em dia, os mais crentes em Hillary Clinton constantemente se apegam a todos os seus comentários e os regurgitam a seus seguidores nas mídias sociais, pregando que ela lutará contra a desigualdade de renda e contra o poder de Wall Street. Suas esperanças, contudo, se amparam inteiramente no que ela diz em discursos — ou melhor, no que ela diz em discursos quando não está falando para banqueiros de Wall Street, quando ela pensa que as câmeras estão desligadas.
O problema é que muita gente fala muita coisa e a maior parte delas é… bobagem. Voltemos a 2000, quando Al Gore de repente começou a falar muito sobre os “2% mais ricos” e a desfilar sua retórica populista pró-sindicatos. Coincidentemente, os sindicatos automotivos na época ameaçavam apoiar Nader. Mas, claro, Gore pediu que o senador Joe Lieberman silenciosamente assegurasse à imprensa empresarial que tudo não passava de “retórica eleitoral”.
Em 2008, ouvimos muito de Obama sobre as escutas ilegais da Agência de Segurança Nacional (NSA) e sobre o fechamento de Guantánamo. Em janeiro de 2009, Obama esqueceu tudo aquilo e fez sua melhor imitação de George W. Bush sobre essas questões. Apesar de sua retórica populista sobre sair do NAFTA (algo que seu time deve ter garantido ao governo canadense que não passava de retórica também), Obama começou um programa de ainda mais falsos “acordos de livre comércio”, como a Parceria Trans-Pacífico.
No entanto, pelo menos Obama em 2008 conseguia fingir que acreditava no que dizia. Hillary Clinton não consegue. Normalmente, três dias depois de Clinton responder uma pergunta com seu sorriso vazio, notícias aparecem provando que não passava de mentira. Lembram-se da história do pouso na Bósnia, quando ela supostamente era alvo de atiradores? E se alguém realmente acredita que seu voto para autorizar a guerra no Iraque foi motivado por algo que não suas preocupações de elegibilidade futuras, diga um olá para o Coelhinho da Páscoa por mim.
Não importa o que Hillary diga hoje em dia, os Clintons foram parte de uma cultura incrivelmente incestuosa e corrupta que envolvia ambos os partidos no Arkansas. Não temos motivos para acreditar que as negociações desonestas em que ela se envolveu, sua negligência com as políticas antitrabalhador do Walmart enquanto sentava em sua mesa diretora ou que seus laços com a Monsanto não definam quem ela é ainda hoje.
Esperar que a política eleitoral acabe que o domínio corporativo é loucura. A noção de que o envolvimento político de base tem peso maior do que as centenas de milhões de dólares em contribuições corprativas de campanha é risível. A principal atividade do governo americano, sob controle de ambos os partidos, é manter a estrutura corporativa no país e no mundo. Pode apostar.