As bombas americanas caem novamente no Iraque em ataques autorizados por Barack Obama contra o grupo militante islamista ISIS, que tomou grande parte do país. Com isso e com o envio de “conselheiros” militares americanos, a lembrança da campanha de Obama, que criticava a guerra no Iraque antes de vencer as eleições, fica cada vez mais turva. Novamente, a fé colocada em líderes e no governo para representar quaisquer interesses que não os seus próprios se choca com o muro da realidade.
Curiosamente, junto com os gritos de “mais forte e mais rápido” de sujeitos como os senadores Lindsey Graham e John McCain, outra corrente pró-guerra surgiu desta vez: uma que alega uma “responsabilidade de proteger”, que existe por causa da dívida que o país contraiu com a invasão do Iraque de 2003 e suas consequências.
O raciocínio é que o envolvimento (contínuo) dos Estados Unidos no Iraque é devido porque a emergência de uma guerrilha sectária é, afinal, culpa dos Estados Unidos pós-Saddam. O arrogante espírito de onipotência militar aqui já está mais do que claro, mas esse episódio também mostra uma compreensão seletiva da história. O histórico de interferência ocidental no Iraque não começa com as mentiras da administração de George W. Bush. Na verdade, o Iraque que conhecemos atualmente foi costurado como protetorado sob domínio britânico com partes do Império Otomano que foram tomadas depois da Primeira Guerra Mundial. Depois da passagem da tocha da hegemonia da Grã-Bretanha para os EUA, uma das primeiras coisas que o governo americano fez no Iraque foi apoiar um golpe pelos baathistas — incluindo um tal de Saddam Hussein — em 1963. Mais tarde, a CIA apoiaria os ataques com armas químicas empreendidos pelo regime de Saddam.
Nos anos 1990 os EUA se viraram contra sua própria criação, trazendo mais guerras e sanções que claramente atingiram mais os civis iraquianos que o regime. Mais tarde, o país foi invadido e mais um governo satélite ocidental foi estabelecido.
Quando avaliamos esse raciocínio de uma “dívida” americana que pede novas intervenções e analisamos todo o histórico de interferências no Iraque, sua inocência é impressionante. A dívida literalmente se estende por quase 100 anos. Contudo, a moeda de troca proposta aqui não é uma admissão de culpa e uma restituição aos indivíduos não-estatais, mas mais bombas, mísseis e manipulação. Como isso é o que causou os danos em primeiro lugar, essa suposta “oferta” imperial benevolente não passa de uma piada cretina. O que o governo americano deve ao povo do Iraque, depois de tanto tempo de mentiras e derramamento de sangue, é uma admissão de culpa, seguida por uma saída do palco mundial com a cabeça baixa.
Em reconhecimento à história recente, ao menos, os primeiros ataques desde novo capítulo imperial foram lançados pelo porta-aviões USS George H.W. Bush. Sem o fim da hegemonia dos EUA, que só será alcançada através do próprio fim do estado, os noticiários em 2044 ainda carregarão manchetes sobre a presidente Sasha Obama lançando novos ataques no Iraque a partir do porta-aviões USS John Ellis Bush.