De acordo com uma matéria recente no Shareable de Kelly McCartney e Sarah Baird (“Biblioteca de sementes na Pennsylvania investigada pelo Departamento de Agricultura“, 7 de agosto), o Departamento de Agricultura da Pennsylvania está investigando uma bibliteca de sementes nativas (chamadas “heirloom” em inglês) como possível vetor de ataque para “terroristas agrícolas”.
Bibliotecas para compartilhamento de sementes tradicionais são um fenômeno crescente em todo país, vistas como forma de preservar a biodiversidade e a herança de milhões de horas de cruzamento seletivo contra o controle de poucas grandes corporações do agronegócio sobre toda a nossa cadeia alimentar.
Uma biblioteca pública em Mechanicsburg, Pennsylvania, celebrou o Dia da Terra neste ano lançando seu próprio projeto para sementes. O Departamento de Agricultura estadual não engoliu bem a notícia e está investigando a biblioteca de semenes, citando possíveis violações da Lei de Sementes de 2004. Os deveres do departamento, de acordo com a lei, incluem “manter sementes incorretamente rotuladas, espécies de plantas invasivas, variedades cruzadas e plantas venenosas fora do estado”. Um comissário do condado de Cumberland explicou, presumivelmente com a cara mais limpa do mundo: “O agroterrorismo é um cenário muito, muito real. Manter e proteger as fontes de alimento dos Estados Unidos é um desafio enorme (…).”
De acordo com o bibliotecário responsável pelo programa de sementes, a biblioteca é capaz de demonstrar a pureza e as taxas de germinação de suas sementes requeridas pelo estado através de passos muito simples: “Nós só podemos ter sementes do ano corrente (…) e elas devem ser compradas em lojas porque assim elas passaram por testes de pureza e germinação. As pessoas não podem doar suas próprias sementes porque não seríamos capazes de testá-las como a Lei das Sementes exige. Além disso, quando as pessoas contribuem, elas normalmente trazem apenas algumas sementes. Os testes de pureza e germinação requer várias centenas de sementes, então não temos sementes suficientes para testar”.
Então bibliotecas de sementes nativas não têm problema nenhum, dado que as sementes sejam adquiridas através de distribuidores comerciais e não hajam sementes de anos anteriores. Hummm… Parece até que essas regras foram especialmente feitas para criminalizar o contorno do monopólio do agronegócio sobre a alimentação. Mas com certeza é só coincidência.
É estranho também aquilo que não é considerado “terrorismo agrícola” segundo a Lei das Sementes. Apesar de todas as suas preocupações com sementes rotuladas erroneamente e variedades cruzadas de plantas, o Departamento de Agricultura da Pennsylvania notoriamente não se preocupa com coisas como a contaminação das plantações nativas pelo pólen das sementes geneticamente modificadas pela Monsanto (inclusive das chamadas “sementes suicidas”, desenhadas para produzir plantas estéreis para que os fazendeiros não possam economizar no uso de sementes).
Pior ainda, o Departamento nem se preocupa com outras práticas terroristas da Monsanto, como o envio de agentes da Pinkerton (sim, aquela Pinkerton — dos mercenários armados que costumavam combater trabalhadores grevistas) para perseguir fazendeiros cujas lavouras forem contaminadas e assim estejam “roubando” o material genético patenteado da Monsanto. É como processar alguém em quem você atirou por roubar suas balas. A Monsanto também ameaça e chantageia supermercados que rotulem o leite que possua ou não o hormônio de crescimento bovino recombinante (rBGH), sob a alegação de que a liberdade de expressão comercial é “difamação de produtos”.
O governo do estado da Pennsylvania age de formas que alguns considerariam terrorista, como ao enviar (a pedido das grandes cadeias de supermercado) agentes para montar armadilhas para fechar os clubes de compras de alimentos para membros dos fazendeiros Amish, ou ao mandar times da SWAT para aterrorizar os vendedores de leite cru (não-pasteurizado).
Desde que foram estabelecidos, os departamentos de agricultura do governo federal e dos estados americanos subsidiam fortemente e agem como braço legal da quadrilha corporativa do agronegócio, utilizando táticas terroristas contra pessoas que tentam se alimentar sem pagar impostos a seus senhores da classe empresarial. Se, como afirmou o major-general Smedley Butler, os fuzileiros navais dos Estados Unidos são apenas o braço armado no exterior dos grandes bancos americanos, então o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e da Pennsylvania são o braço operacional da Monsanto, da Cargill e da ADM.