De acordo com o jornal Washington Post:
O projeto republicano requereria que o diretor do FBI fizesse uma investigação para cada refugiado sírio ou iraquiano admitido nos EUA e que oficiais da inteligência e do Departamento de Segurança Interna se certificassem de que não seriam ameaças à segurança.Como esperado, a atenção em Washington está fixa na resposta aos problemas causados pelo militarismo americano no Oriente Médio — e suas consequências inesperadas — em vez do combate às causas mais básicas do terrorismo antiocidental: o imperialismo. O problema é que esse plano de gerência dos problemas causados pela guerra provavelmente gerará mais ressentimento e criará problemas ainda maiores.
A administração Obama afirmou na quarta-feira que a lei “introduziria requerimentos desnecessários e impráticos que limitariam de forma inaceitável nossos esforços de assistências a alguns dos povos mais vulneráveis do mundo”.
Os refugiados são bodes expiatórios mais fáceis e aqueles que condenam essas pessoas a viverem no inferno criado pelo governo americano merecem apenas escárnio — e mais ainda quando há pretensões presidenciais em jogo. A história vergonhosa de medo e rechaço aos refugiados foi convenientemente esquecida por oportunistas que buscam marcar gols fáceis através do alarmismo.
Como esperado, os que mais lucram pela disseminação do medo (que, incidentalmente, são os mesmo que querem ainda mais guerras) exageram escandalosamente o risco da admissão de refugiados. Não, o humanitarismo não é um risco desmedido. Na revista The Atlantic, Russell Berman observa:
Nos 14 anos desde o 11 de setembro de 2011, os Estados Unidos já abrigaram 784 mil refugiados de todo o mundo, de acordo com dados do Instituto de Políticas Migratórias, um think tank localizado em Washington, D.C. Dentro dessa população, três pessoas foram presas por atividades relacionadas ao terrorismo. Nenhuma delas esteve próximo de executar um ataque dentro dos EUA e dois dos homens foram presos quando tentavam deixar o país para ingressar em grupos terroristas no exterior.Desta vez será diferente, de acordo com os analistas, que pintam cenários apolcalípticos de infiltração terrorista. Porém, como Berman escreve:
Como os oficiais do governo americano e os defensores dos direitos dos refugiados apontam, isso jamais aconteceu na história moderna. Nem quando os EUA admitiram dezenas de milhares de vietnamitas nos anos 1970, nem quando os 120 mil marielitos cubanos chegaram de barco nos anos 1980. Também não ocorreu no desespero do pós-guerra recente na Bósnia, na Somália ou em Ruanda.Na realidade, a infiltração terrorista é bastante improvável porque:
Aqueles que buscam refúgio são sujeitos à verificação de segurança mais alta entre todos os viajantes aos EUA> O Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados inicialmente escolhe que refugiados devem ser direcionados aos EUA após fazer sua verificação independente. Depois, os oficiais americanos conduzem múltiplas entrevistas em pessoa [enquanto os refugiados permanecem em campos distantes da ONU] e verificam a história do refugiado com agências de inteligência, fazendo referências cruzadas com vários bancos de dados governamentais, que incluem o Departamento de Segurança Interna e o Centro Nacional Antiterrorismo. Como resultado desse processo extenso, apenas 2 mil refugiados já foram reassentados nos EUA desde que a guerra civil começou em 2011 — um número muito menor do que em várias crises anteriores.Berman acrescenta ainda que “um refugiado que pretende ser reassentado nos EUA deve suportar um processo de seleção que pode demorar até dois anos antes de pisar em solo americano” (itálico nosso).
Os libertários são céticos em relação à competência governamental, apesar do histórico bem sucedido citado por Berman. Porém, pode-se explicar esse histórico sem acreditar que o governo repentinamente se tornou eficient. Considerando que os refugiados devam se submeter a esse alto grau de escrutínio, o programa de refugiados provavelmente não é o preferido por aqueles que tentam se infiltrar nos EUA; estes provavelmente imaginariam que provavelmente seriam pegos ao se inscrever no programa de refugiados em vez de alcançar seus objetivos de outra forma. O Niskanen Center observa que, “se o ISIS de fato quisesse atacar os EUA, ele precisaria apenas despachar um dos vários estrangeiros que saíram dos EUA ou da União Europeia para lutar a seu lado”. Ou, como nos lembra David Friedman, eles também poderiam enviar muitos turistas. Na verdade, o ISIS precisaria somente mobilizar os americanos “radicalizados” pelas redes sociais. O ISIS não precisaria “se envolver em uma missão que levaria de dois a três anos com baixa probabilidade de sucesso”.
Assim, o governo muito provavelmente é bem sucedido em pegar terroristas porque eles não se apresentam inicialmente às autoridades.
Claro, o papel do governo no escrutínio dos refugiados faz com que a maioria dos refugiados fique desconfortável. (Um dos motivos é que se trata de um programa estatal financiado por impostos, embora não precise necessariamente sê-lo.) Mas é assim que as coisas continuarão a ser por algum tempo. No entanto, devemos enfrentar a questão de como uma sociedade completamente libertária — isto é, sem estado — poderia lidar com essa questão. Essa sociedade seria vulnerável às pessoas que a ameaçam? Eu duvido muito. Pessoas livres são mais inovadoras, flexíveis e empreendedoras. Podemos ter confiança de que uma sociedade livre conseguiria desenvolver métodos para garantir que os estranhos tivessem fiadores, dando a todos confiança para lidar com eles. De fato, esses mecanismos já foram construídos muito tempo atrás e poderiam ser atualizados para serem perfeitamente consistentes com os direitos individuais de todos se o estado saísse de cena.
A alternativa a receber os refugiados é deixá-los nas garras do Estado Islâmico ou em campos de refugiados onde estariam vulneráveis à tal “radicalização”. O confinamento tem esse efeito. A admissão aos Estados Unidos reduziria o terrorismo. (A adoção de uma política externa não-intervencionista seria um passo complementar indispensável.)
Não podemos jamais temer estender a mão àqueles que fogem da opressão. Um mundo de risco zero não é uma opção, mas o risco que existe neste caso não é significativo.