Em discurso recente, o governador do estado americano da Louisiana Bobby Jindal anunciou: “viemos para a América para ser americanos. Não indo-americanos, simplesmente americanos. […] Se quiséssemos ser indianos, teríamos continuado na Índia” (The Hindu, 16 de janeiro). Ele também alegava que era perfeitamente razoável que os países discriminassem potenciais imigrantes com base em suas inclinações a “assimilar a nova cultura” ou “estabelecer uma cultura separada dentro do país”.
A ironia é muito óbvia se você se lembrar — ao contrário de Jidal — que o inglês não é a língua nativa da América, mas da Inglaterra. A cultura dominante dos Estados Unidos descende das pessoas que chegaram a este continente e que pretendiam permanecer não como anglo-americanos, mas ingleses. Elas não assimilaram as culturas das Confederações Iroquesa, Powhatan ou das Cinco Tribos Civilizadas e nem mesmo adotaram suas línguas. Elas exterminaram ou fizeram uma limpeza étnica nessas culturas.
O status dominante do inglês foi contestado desde o começo. Além das línguas das Primeiras Nações, Nova York tinha uma população falante do holandês no Vale do Hudson até meados do século 19. O mesmo ocorria com os alemães no oeste da Pensilvânia e os franceses no norte do Maine. Lembre-se também de que a expansão para além das fronteiras americanas de 1783 envolveu a conquista de povos que antes estavam sob domínio francês, espanhol ou mexicano, impondo a língua inglesa sobre eles. Essas grandes fazendas do agronegócio cultivadas por “imigrantes ilegais” na Califórnia originalmente eram haciendas tomadas por magnatas brancos que colonizaram a Califórnia mexicana, substituindo os antigos patronos que dependiam do trabalho de peões.
O “caldeirão cultural” é só outro exemplo do essencialismo étnico e da identidade nacional monolítica forçada pelo estado que se espalhou pela maior parte do mundo desde os tempos napoleônicos. O modelo de direito internacional adotado pela Europa com o Tratado da Westfália em 1648 assumia como norma que todo indivíduo deveria estar sujeito a um único estado-nação soberano.
Com a ascensão do nacionalismo durante as guerras napoleônicas, essa norma foi extendida para incluir o requisito de que todo estado-nação, idealmente, deveria possuir uma única identidade étnica. A França se tornou o estado oficial dos etnicamente franceses, a Alemanhã dos etnicamente alemães, etc. Todos que estivessem dentro das fronteiras do estado-nação deveriam ser assimilados a uma etnia dominante e adotar sua língua. Essa língua, em sua forma mais extrema, era o dialeto oficial (o padrão BBC ou o Network Standard americano para o inglês, o alto-alemão padrão, o francês Île-de-France, o castelhano padrão, etc).
No século 20, a Europa colonial e os Estados Unidos impuseram o estado-nação westfaliano como modelo de direito internacional ao mundo todo. Na África, isso significou que as potências europeias consolidaram centenas de pequenos principados, confederações e sociedades em 47 estados artificiais multiétnicos. O Oriente Médio ainda vive com as consequências dos estados artificiais criados com a vitória aliada no antigo Império Otomano pelo Tratado de Versailles.
O movimento em prol do inglês é especialmente desinformado. Na maiorria dos casos, a necessidade prática é um incentivo muito maior para o aprendizado do inglês do que qualquer outro motivo que possam inventar. E as pessoas geralmente são bastante inteligentes e aprendem quaisquer línguas de que precisem para funcionarem dentro da sociedade. Mesmo quando os filhos de imigrantes hispânicos — que falam inglês fluentemente — falam espanhol uns com os outros, é um espanglês que faria com que suas avós jogassem as mãos para o alto aterrorizadas. Quanto aos imigrantes de primeira geração que têm problemas em aprender inglês, eles não são diferentes dos avós poloneses e italianos que muitos recordam nostalgicamente em Chicago, ou dos noruegueses e alemães em Minnesota. E, psiu — eu ouvi dizer que algumas tropas de ocupação americanas e empregados de corporações que pilham os recursos de outros países também não falam as línguas locais!
Jidal pertence a um grupo que adora dizer que o governo tem que sair das nossas costas e cuidar da própria vida. Eu concordo plenamente. Um dos primeiros itens dessa agenda deveria ser parar de definir nossas identidades étnicas e parar de enfiar o nariz nas línguas que nós escolhemos falar uns com os outros.