O caos e os protestos em Ferguson, Missouri, que se seguiram à morte de um adolescente desarmado, estimularam uma discussão sobre o poder da polícia e até que ponto ele deve se estender. Para os anarquistas, a resposta é simples: o poder da polícia não deveria existir.
“Mas o que você faria com os psicopatas e as demais pessoas violentas?”
Essa é, talvez, a pergunta mais comum apresentada aos anarquistas. Afinal, a maioria das pessoas vê no estado e em seu monopólio sobre o uso da força a maneira pela qual a sociedade limita as ações das pessoas violentas. Para responder à pergunta, devemos primeiro analisar a atual “solução”: a polícia.
A situação em Ferguson é exemplo das medidas mais extremas e absurdas tomadas pela polícia. Porém, uma compreensão do tipo de cultura promovida pelo estatismo leva à conclusão de que Ferguson se trata, simplesmente, de um sintoma de uma doença maior que toma os Estados Unidos.
O estatismo normaliza a iniciação do uso da violência e a violação dos direitos humanos mais básicos. As eleições, que servem as propriedades e liberdades civis de milhões de pessoas em uma bandeja para os grupos de interesse, torna a destruição dos direitos humanos um fato corriqueiro. O complexo militar industrial, que cria ódio e estimula o racismo, a xenofobia e o nacionalismo no exterior, em casa promove bombardeios literais como parte do cotidiano. E o pior de tudo: a militarização da polícia cria gerações de servos obedientes que têm medo de estranhos que andam pelas ruas com roupas escuras e que lembram gangues, portando armas que podem explodi-lo em um só tiro… ou pior.
A polícia de Ferguson está acabando com o direito de livre expressão, impondo toques de recolher e ameaçando manifestantes e jornalistas com violência. E eu pensei que a anarquia era o caos.
Por que isso continua a acontecer? Simples. Porque eles têm a maior parte das armas – porque têm um monopólio.
A polícia não é eficiente porque não depende do apoio voluntário dos consumidores. Não é responsabilizada criminalmente porque não tem qualquer ameaça séria de perda de poder. Os policiais cometem abusos porque os cidadãos só têm duas escolhas: obedecer ou sofrer as consequências. A polícia é militarizada porque não opera em um sistema de lucros e prejuízos em um mercado livre e tem uma fonte infinita de dinheiro roubado dos pagadores de impostos.
Se o monopólio policial fosse quebrado, a polícia que conhecemos não mais existiria. Agências privadas de defesa, associações comunais, vigias comunitárias e sociedades de auxílio mútuo assumiriam o lugar da “defesa” estatal. Embora elas fossem servir para proteger os cidadãos, como a polícia afirma fazer, essas organizações provavelmente teriam um caráter muito diferente das polícias atuais.
As forças policiais são isoladas atualmente da competição, das pressões de mercado, do mecanismo de preços e do sistema de lucros e prejuízos. como monopólios, têm incentivos para gastar demais, cobrar demais, subproduzir e, geralmente, trabalhar em oposição aos interesses dos consumidores e em favor do seu próprio.
Mas as firmas e organizações que espontaneamente surgem no mercado livre através das trocas voluntárias estão sujeitas às forças de mercado todo momento. Elas devem servir aos interesses dos consumidores, criando um produto adequado a preços realistas ou sendo engolidas pela concorrência. No ramo da proteção, os conflitos violentos devem ser minimizados em favor de soluções pacíficas e baratas, caso contrário surgem organizações concorrentes que servem melhor aos interesses do público.
Uma vez que essas organizações estariam sob constante ameaça da concorrência, seus métodos e táticas seriam completamente diferentes dos empregados pela polícia. Teriam que incluir o respeito aos direitos dos consumidores ou perderiam seus clientes e membros. As agências que melhor protegessem os direitos individuais seriam as mais lucrativas e aquelas que mais os violassem seriam empurradas rapidamente para fora do mercado.
E o que faríamos com todos os psicopatas e criminosos violentos? Nós não daríamos a eles uma plataforma isolada da competição do mercado que permitisse que eles ameaçassem, prendessem, espionassem, torturassem, agredissem e controlassem as outras pessoas. Ou seja, não teríamos uma polícia.