O Partido Democrata dos Estados Unidos normalmente se pinta como o “partido da compaixão” com sua retórica que fala dos “trabalhadores americanos” e de “sentar na mesa do jantar com a família”, que contrasta com o discurso dos fantoches de Wall Street que povoam o Partido Republicano. Os republicanos, por sua vez, se colocam como o partido do “livre empreendedorismo” — ao contrário dos socialistas anti-empresários do outro time. Mas o Partido Republicano não é a favor da “livre empresa”, mas favorecem mercados manipulados pelo governo para garantir os lucros dos grandes bancos e das corporações da lista da Fortune 500. Os democratas também não são representantes dos “trabalhadores comuns”. São — adivinhe só — favoráveis à manipulação dos mercados para garantir os lucros dos grandes bancos e das corporações da Fortune 500.
Numa pesquisa recente, os grandes doadores de Wall Street para partidos políticos, que normalmente apoiam o Partido Republicano, disseram que, no caso de uma disputa entre Jeb Bush e Hillary Clinton, “qualquer um serve”. Se Jeb decidir não concorrer e Chris Christie não se recuperar do escândalo “Bridgegate”, o mercado financeiro provavelmente apoiará Clinton para evitar a imprevisibilidade do Tea Party. O CEO do Goldman Sachs Lloyd Blankfein, que gerenciou as campanhas de doações de Clinton em 2008, aparentemente ficaria “muito feliz” tanto com Bush como com Clinton.
Francamente, é difícil ver por que Wall Street seria contrária a um dos democratas possíveis. Clinton, num discurso fechado aos executivos do Goldman Sachs no ano passado, disse a eles exatamente o que queriam ouvir. As administrações democratas tendem, tanto quanto as republicanas — pelo menos — a juntarem os trapinhos com o Goldman Sachs e com o Citigroup. Apesar de sua retórica, a ala “progressista” do partido é igualzinha. A senadora Elizabeth Warren, líder da “ala democrata do Partido Democrata”, recentemente expressou preocupação com o número de membros da administração Obama que faziam parte do Citigroup — logo antes de votar na confirmação do veterano do Goldman Sachs Stanley Fischer para o Banco Central americano. Veja como Warren é capaz de aprovar o controle de Wall Street sobre a política do governo como uma legítima democrata — mas se sente muito, muito culpada ao fazer isso.
As empresas adoram a estabilidade e a certeza da economia regulamentada pelo estado, junto com a garantia de que “continuarão a ser lucrativas”. Um item em específico que acelera os corações tanto de social-democratas quanto dos CEOs corporativos é o “investimento em infraestrutura”: o sistema nacional de rodovias e as gigantescas represas de que Rachel Maddow fala em seus comerciais de TV. Claro que as grandes empresas gostam de “financiar infraestrutura”. A infraestrutura altamente subsidiada de transportes de alto volume foi o que centralizou a economia americana no século 20 sob o controle de algumas dezenas de oligopólios e permitiu que os grandes varejistas destruíssem as empresas menores de Main Street.
Portanto, se estiver procurando um partido “anti-corporativista” na política americana, ele não existe.