Os americanos foram condicionados a considerar o 1º de maio, o Dia do Trabalho, um “feriado comunista”, associado até recentemente com paradas militares na Praça Vermelha e “cumprimentos fraternais” dos líderes dos regimes marxistas-leninistas em nome de seus povos. Pode ser surpreendente pensar que se tratava, originalmente, de um feriado americano, criado pelos trabalhadores de Chicago para celebrar a campanha pela jornada de oito horas diárias e os mártires de Haymarket.
Talvez seja ainda mais surpreendente — tanto mais para os libertários atuais — notar que o 1º de maio é parte da herança do movimento libertário de livre mercado. Isso é contraintuitivo por alguns motivos óbvios. Desde Ludwig von Mises e Ayn Rand, o libertarianismo americano é associado — não sem razão — a uma defesa reflexiva do capitalismo e das grandes empresas. Apesar do realinhamento político à direita do movimento de livre mercado durante o século 20, havia uma grande esquerda de livre mercado no século 19, com laços estreitos aos movimentos socialista e trabalhista.
As origens do liberalismo clássico no Iluminismo coincidiam fortemente com as do movimento socialista original. Vários autores, como o britânico Thomas Hodgskin e os anarquistas individualistas americanos (ou anarquistas de Boston) reunidos em torno de Benjamin Tucker e da revista Liberty, pertenciam tanto aos grupos libertários de livre mercado quanto ao socialismo libertário. Em sua opinião, o capitalismo era um sistema em que o estado intervia em favor de latifundiários e outros rentistas, defendendo seus direitos de propriedade artificiais, monopólios e outros tipos de escassez artificiais, de onde se derivavam os lucros, juros e rendas. Para eles, o objetivo concreto do socialismo era a abolição desses monopólios, que permitiria que a competição no mercado pela oferta de capital e terras levasse seus rendimentos a zero, para que o salário natural do trabalho fosse seu produto completo.
Talvez não seja tão surpreendente que esses autores tivessem proximidade ou fossem participantes ativos nos movimentos socialista e trabalhista. Benjamin Tucker, embora se intitulasse socialista, era bastante indiferente às organizações trabalhistas. Ele considerava a organização contra os grandes donos de terras e o estabelecimento de bancos mútuos de crédito gratuito as formas de organização principais formas de ativismo — e era particularmente agnóstico quanto a que formas de associação as pessoas escolheriam numa economia livre desses monopólios.
Porém, vários participantes do grupo de anarquistas de Boston e do círculo da revista Liberty eram ativos na Liga de Reformas Trabalhistas de New England ou na União Nacional Trabalhista de William Sylvis, e mais tarde na Liga de Reformas Trabalhistas Americana. Havia também um contingente significativo de individualistas na Associação Internacional de Trabalhadores (formada por anarquistas que se retiraram da Primeira Internacional, que foi tomada por seguidores de Marx) e no movimento nacional e nas greves gerais pela jornada diária de oito horas. Alguns individualistas importantes nos movimentos políticos socialista e trabalhista eram Ezra Heywood, William Greene, Joshua King Ingalls e Stephen Pearl Andrews.
Individualistas como Dyer Lum mais tarde tentaram construir pontes com o movimento trabalhista radical. Lum tentou unir a análise econômica individualista e o ativismo trabalhista radical. Envolveu-se com os Cavaleiros do Trabalho e com a Federação Americana do Trabalho. Lawrence Labadie passou a promover ideias anarco-individualistas e mutualistas dentro dos sindicatos industriais — primeiro na Federação de Mineiros do Oeste e depois junto aos Wobblies.
A ligação comum que se faz do Dia do Trabalho com os partidos marxistas-leninistas e os regimes comunistas reflete uma vitória ideológica esmagadora dos defensores do capitalismo corporativo do século 20. Nos Estados Unidos, o contra-ataque ideológico começou com o culto à bandeira e o juramento nos anos 1890, continuou com o movimento pela “americanização” dos espaços de trabalho e das escolas públicas e culminou com a histeria belicista e a ameaça vermelha da administração Wilson, além das táticas de terror da Legião Americana, da Ku Klux Klan e dos Esquadrões Vermelhos locais.
Essa vitória ideológica foi conectada a outra vitória mais recente: a associação do “livre mercado” e da “livre empresa” ao capitalismo corporativo na opinião pública e a crença (promovida pelos gerencialistas autoritários do movimento progressista que roubaram o nome “liberal”) de que o estado regulatório são adversários em vez de aliados.
O 1º de maio não é só um dia para reclamar o Dia do Trabalho como um feriado essencialmente liberal e libertário, mas para afirmar que o livre mercado é o inimigo do poder e do capitalismo corporativo.