Na vila de Kalabalge, no estado nigeriano do norte de Borno, o povo reagiu. Enquanto políticos tremiam e ativistas tuitavam, as pessoas de Kalabalge se armaram e combateram seus inimigos, prendendo um comboio do Boko Haram numa emboscada quando iriam sofrer um ataque em sua vila. Pelo menos 41 militantes do Boko Haram foram mortos e dez foram capturados no ataque surpresa a dois caminhões empreendido pelos habitantes do vilarejo. Armados com rifles, facões e arcos, as pessoas de Kalabalge fizeram aquilo que o exército da Nigéria não foi capaz de fazer e se defenderam com sucesso dos milicianos.
Estamos condicionados a pensar em “ativismo” como uma tentativa de fazer com que outras pessoas façam alguma coisa. Pedimos para que políticos e burocratas saiam de sua inércia e ajam de alguma maneira benéfica. Mas o melhor e mais efetivo ativismo é aquele em que assumimos o controle da situação e resolvemos nossos problemas — ou combatemos nossos inimigos — por conta própria. Na província de Michoacán, no México, as pessoas se insurgiram contra o cartel Cavaleiros Templários, expulsando-os com tanta eficiência que o governo mexicano desistiu de tentar suprimir as milícias e agora pretende suborná-las, transformando-as em um braço do estado criminoso. Só podemos esperar que o povo resista a esses avanços.
E agora, na Nigéria, o povo está levantando. Enquanto o resto do mundo responde aos crimes do Boko Haram com hashtags e selfies, o povo de Kalabalge respondeu com balas e facas, assumindo a responsabilidade por suas vidas e famílias. Para se defender, deve-se depender de si mesmo; em cursos de autodefesa, nós aprendemos tanto a confiar na própria força quanto técnicas para derrotar os atacantes. O Boko Haram reagiu da forma que os agressores respondem desde sempre a vítimas fortalecidas — colocaram o rabo entre as pernas e fugiram, deixando seus mortos e feridos para trás como covardes que sempre foram.
Nos Estados Unidos, o centro imperial, nós também precisamos aprender a nos defendermos de agressores em nosso meio, contra as forças do império. As ações não precisam ser diretas, não é necessário o confronto direto — embora aqueles que escolham enfrentar os opressores diretamente mereçam o nosso respeito. No movimento anti-guerras dos últimos 14 anos, ocorreram várias iniciativas de conscientização, de levantamento de fundos e outros eventos importantes, mas o ativismo mais efetivo teve duas formas: o desestímulo ao alistamento militar — conhecido como “contra-recrutamento” — e o estímulo à deserção dos soldados. São iniciativas muito mais desafiadoras do que segurar uma placa numa passeata, porque requerem que nós conheçamos as pessoas que estamos tentando alcançar e que ofereçamos uma alternativa viável ao exército, que é um dos últimos lugares que existem em nossa sociedade em que qualquer pessoa fisicamente apta pode conseguir um emprego com bom salário e benefícios. Mas ambas as ações geram resultados práticos, porque retiram matéria-prima da máquina estatal, forçando os controladores do estado imperial a gastar mais tempo e recursos para encontrar e reter soldados e menos na agressão e no assassinato de pessoas.
Falar numa sala de aula no interior sobre as alternativas ao exército não é tão dramático quanto fazer uma emboscada a caminhões do Boko Haram numa floresta nigeriana no meio da noite, mas ambas as ações compartilham um mesmo aspecto: nenhuma delas requer que imploremos àqueles que detêm o poder por piedade e conforto. Ambas combatem o inimigo diretamente e enfrentam diretamente os mecanismos de opressão e violência. Se vamos ser salvos, precisamos seguir o exemplo de coragem do povo de Kalabalge e tomar nosso destino em nossas próprias mãos.