Se você tem um pingo de humanidade, a resposta é sim. Os presos Richard Matt e David Sweat têm dominado as manchetes nos Estados Unidos por quase duas semanas após escaparem de Dannemora, uma prisão de segurança máxima localizada ao norte da região metropolitana de Nova York. Uma funcionária da prisão, Joyce Mitchell, foi acusada de dar assistência à fuga. Com isso, Mitchell carimbou seu passaporte para a lista dos Mais Odiados da América, onde encontramos várias análises psicológicas baratas de seu comportamento pela mídia: ela supostamente tem uma doença chamada hibistrofilia, que a faz sentir atração sexual por homens perigosos. É inconcebível aos comentaristas que Mitchell possa ter sentido qualquer traço de simpatia pelos homens presos em jaulas pelo resto de suas vidas. Também não faltam comentários nas notícias à noite passando julgamento sobre Matt e Sweat, nos advertendo sobre quão perigosos devem ser e quão irracionais e violentos eles seriam em relação a qualquer pessoa que os encontrasse.
Uma vez só, eu gostaria que aparecesse alguém em um desses programas para dizer: “Eu acredito que Richard Matt e David Sweat fariam o que pudessem para ficar fora da prisão, inclusive tentar não chamar atenção e talvez cooperar com quaisquer pessoas que pensem em ajudá-los que conseguirem encontrar no mundo exterior”. Isso faria com que a mídia entrasse em curto. Matt e Sweat foram racionais e sãos o bastante para perceberem que a prisão é um lugar terrível e que não poderiam passar mais nenhum minuto lá dentro. Não é impossível que eles tentem permanecer livres o quanto puderem. No mínimo seria um sopro de ar fresco perceber que os comentaristas pararam com suas falsas certezas e não teriam qualquer ideia sobre como os fugitivos agiriam, porque eles, os comentaristas, não fazem ideia dos horrores da vida prisional.
Fico feliz que esses homens tenham tido um descanso da vida na prisão, mesmo que breve. A instituição sórdida da prisão é uma mancha sobre a humanidade. Para uma espécie que se acostumou a usar seu conhecimento acumulado para criar coisas inimagináveis às gerações anteriores, os seres humanos se provaram incrivelmente ineptos para criar um sistema criminal humano. Como Robert Anton Wilson observou:
A sociedade que conhecemos se baseia na tortura e na morte, ou na ameaça de tortura e de morte, (…) embora as autoridades nunca admitam. A experiência de estar enjaulado é profundamente punitiva ao humano médio, como também é para qualquer primata; é a forma de tortura que nossa sociedade aprova.
Justificativas para o encarceramento criminal variam, mas a razão subjacente a todas elas é uma crença disseminada de que os criminosos “merecem estar lá”. Estão pagando pelo que fizeram. Por seus pecados. Com o crescimento do estado e de suas legislações perversas, surgiu a necessidade de prisões. Quebre as regras e você será colocado atrás das grades estatais. Infelizmente, aqueles que ousaram imaginar formas alternativas de justiça foram considerados párias e subversivos pela ameaça que representavam ao controle estatal. Embora a abolição prisional atualmente pareça uma batalha sem possibilidade de vitória, as pessoas civilizadas podem ao menos celebrar instâncias em que as pessoas evitam o encarceramento ou escapam dele como Richard Matt e David Sweat conseguiram.
Se confiarmos em tudo o que a mídia nos diz, não querer enjaular um criminoso deve significar que você apoia os atos que os colocaram na prisão. Esse tipo de argumento preguiçoso é usado frequentemente pela classe política e por todos aqueles que a apoiam sempre que não têm qualquer resposta para a questão. Nós não somos idiotas. Nós podemos separar os crimes da resposta social a eles (a prisão) como duas coisas distintas e que merecem julgamentos separados. Como Eugene Debs afirmou uma vez, “enquanto houver uma classe inferior, eu estarei nela, enquanto houver criminosos, eu serei um deles, enquanto houver uma alma na prisão, eu não estarei livre”. Torcer pela tortura de outro ser humano, não importa quão ruins sejam os atos que eles cometeram, não é uma posição que deve ser tomada por qualquer pessoa que tenha um traço de compaixão.