Um estudo recente feito nos Estados Unidos pelo Bureau de Pesquisas Econômicas, de Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, mostrou que o “0,1% de famílias [americanas] mais ricas possuem mais ou menos a mesma parcela da riqueza que os 90% mais pobres“. Além disso, o estudo mostra que a “recuperação” que continuamos a ouvir falar ainda não alcançou a classe média nos EUA, tendo beneficiado somente aqueles no topo da pirâmide.
Como uma parcela muito pequena da população detém uma riqueza tão grande, analistas políticos e acadêmicos apontam os dedos uns para os outros e inventam soluções. Previsivelmente, o livre mercado é culpado pela ampliação das desigualdades de riqueza e renda. Expoentes da desregulamentação e da liberação dos mercados, os libertários normalmente são acusados de viverem em um mundo de fantasia em que os problemas da desigualdade não existem.
Nós, libertários, fazemos isso a nós mesmo. Quando o assunto surge, muitos de nós ficamos desconfortáveis e defensivamente insistimos que a desigualdade não é de fato um problema, que devemos analisar os padrões médios de vida e outras medições. “O capitalismo é ótimo para os pobres — eu juro!” Os libertários devem aceitar o fato de que a desigualdade é de fato um grande problema.
Mas não precisamos considerar a desigualdade como uma fraqueza em nossos argumentos em favor da liberdade econômica ou como uma questão na qual simplesmente não podemos vencer. As relações econômicas atuais não são resultado da liberdade de trocas ou de relações de propriedade legítimas. Os libertários na verdade estão em posição melhor do que se supõe. A liberdade e a igualdade se complementam e se reforçam, e esta resulta naturalmente daquela.
Anarquistas individualistas como Lysander Spooner consideravam que “os extremos em riqueza e em pobreza” resultavam de “legislações positivas”, que colocavam leis arbitrárias no lugar de leis naturais e “estabeleciam monopólios e privilégios”. No capitalismo, alegava Spooner, os donos do capital tinham poderes especiais na economia — poder que nada tinha a ver com a liberdade de produção, comércio e concorrência. Holisticamente, a intervenção estatal redunda em benefícios aos ricos e politicamente conectados, as elites econômicas com acesso especial àqueles que escrevem e implementam as regras a que estamos sujeitos.
Essas intervenções não são perfeitas e certamente o sistema de capitalismo monopolístico vigente no país possui leves proteções aos trabalhadores, consumidores e pobres. Essas medidas, porém, não comprometem o propósito fundamental da intervenção estatal: desapropriar os proprietários verdadeiros e deixar a maioria à mercê de seus empregadores. O propósito histórico da intervenção estatal, em suma, é a luta de classes permanente, o uso do poder estatal para isolar uma aristocracia econômica.
A esquerda política está certa a respeito da desigualdade, mesmo que esteja errada a respeito da liberdade, dos direitos individuais e dos mercados. Os anarquistas de mercado lutam em favor tanto da liberdade quanto da igualdade, defendendo uma sociedade sem estado na qual a lei máxima é a igualdade de liberdade e autoridade.
A concorrência aberta e genuína é uma força de dissolução e dispersão. Os libertários devem parar de inventar desculpas para as gritantes desigualdades atuais, como se tivéssemos chegado neste ponto através de um regime laissez faire e de soberania do indivíduo.