Quando todos se lembram de onde estavam em determinado dia, dificilmente se trata de uma boa memória. Em 11 de setembro de 2001, nós adicionamos outro dia à lista daqueles que preferiríamos esquecer. Eu estava otimista quando o despertador me acordou. Minha primeira publicação impressa, o panfleto Iron Fist Behind the Invisible Hand (em português, O punho de ferro por trás da mão invisível) acabava de ser aceito pela editora Red Lion Press. A primeira frente fria de setembro, minha época preferida do ano, havia chegado. Eu antecipava um dia de tempo agradável e refrescante. Mas meu bom humor rapidamente se dissipou.
A primeira coisa que ouvi no rádio depois de acordar foi que a primeira torre do World Trade Center havia sido atingida. Enquanto eu escutava, chegavam notícias de um avião atingindo a segunda torre. Claramente, não era acidente.
Meu primeiro pensamento foi que George W. Bush conseguiria poderes executivos que rivalizariam a Lei de Concessão de Plenos Poderes de 1933, que foi aprovada na Alemanha logo após o incêndio do Reichstag. O FBI e a comunidade de inteligência conseguiriam todos os poderes de vigilância que não conseguiram depois do bombardeio de Oklahoma City em 1995. Bush conseguiria uma carta branca para começar guerras em qualquer lugar do mundo sob o pretexto de lutar contra o “terrorismo”, assim como as administrações anteriores haviam se envolvido em guerras ininterruptas e não declaradas em nome do combate ao “comunismo” e ao “narcotráfico” em décadas anteriores. Mas daquela vez a inocência do público seria abastecida por ultraje. Bush conseguiria aprovar suas guerras com menos escrutínio que o Vietnã e todas as outras guerrinhas que foram empreendidas durante a Guerra Fria. Achei que estaria com sorte se meu cartão vermelho do Industrial Workers of the World e os círculos anarquistas com quem eu me comunicava na internet não me levassem sem acusação para um campo de detenção.
O ataque da al-Qaeda ocorreu dois anos após a atmosfera pós-Seattle, parte do surto de ativismo em rede que se iniciou com o levante zapatista de 1994, quando agências multilaterais como o G8 e a Organização Mundial do Comércio não podiam se reunir sem serem perturbadas por protestos antiglobalização. Eu achava provável que a histeria pós-11/09 fizesse com que esse radicalismo que ressurgia fosse marginalizado ou suprimido, assim como a histeria durante a Primeira Guerra Mundial havia sido usada para suprimir a maior parte da esquerda americana. Em meu emprego (num hospital de veteranos do exército), eu trabalhei para causar certa divisão entre os trabalhadores e a gerência, promovendo ressentimento e uma vontade de resistir. Temi que a onda de patriotismo após o ataque terrorista resultaria em uma atitude de “estamos todos juntos”, afogando nosso ativismo trabalhista em um mar de fitas azuis, vermelhas e brancas.
Grande parte disso tudo aconteceu. O Congresso aprovou a Lei Patriótica, a NSA expandiu suas escutas ilegais, o exército e a CIA criaram um campo de detenção em Guantánamo (e torturou os presos tanto lá como em Abu Ghraib e Baghram), Bush imediatamente iniciou uma guerra contra o Afeganistão e em 2003 usou o medo do 11/09 para aprovar sua invasão do Iraque. Até hoje, os apoiadores da nova guerra de Obama sobre o Estado Islâmico denunciam a oposição como gente com uma “mentalidade de 10 de setembro”.
A atmosfera de agitar as bandeiras e fitas amarelas nas semanas seguintes era enlouquecedora. As enfermeiras que entusiasmadamente davam fitas de lapela no trabalho me lembravam dos oficiais do Exército Vermelho. E então as manifestações antiglobalização pós-Seattle se desaceleraram até parar.
Não foram abertos campos de concentração em solo americano para cidadãos americanos e nem foi suspenso o habeas corpus, mas a maioria das expectativas se materializou de alguma forma.
Não era o fim do mundo, porém. Os últimos anos foram o momento em que ganharam notoriedade Chelsea Manning, Wikileaks e Edward Snowden. Se o movimento de Seattle arrefeceu, a Primavera Árabe, o M15 e o Occupy assumiram seu lugar em uma escala ainda maior. Longe de ter sido enterrado sob a onda de patriotismo, o ativismo trabalhista voltou com força total com os boicotes da Coalition of Immokalee Workers e as campanhas em rede dos trabalhadores do Walmart e das redes de fast food.
O estado capitalista e seu aparato de segurança deram o seu máximo depois do 11/09 e ainda assim não conseguiram nos vencer ou nos parar por muito tempo. Nós vamos enterrá-los.