Meu colega de Centro por uma Sociedade sem Estado Roderick Long certa vez descreveu a anarquia como meio-termo, não como um tipo de fanatismo ou extremismo, mas um ponto “entre obrigar o que deveria ser opcional e proibir o que deveria ser opcional”. O argumento de Long não é só um enfoque diferente que tenta vender o anarquismo para uma audiência indisposta a considerar seus argumentos; trata-se, na verdade, de um insight importante sobre o que os anarquistas de fato desejam para o futuro, sugerindo a tolerância à experimentação e ao pluralismo que são centrais à nossa filosofia.
O anarquismo é mais um método que a vindicação de um resultado particular. Assim, uma condição de anarquia — se ela chegar a existir — será aquela que se mostrar coerente com a metodologia prescrita pelo o anarquismo. Como escreve Donald Rooum, “o ideal do anarquismo é o de uma sociedade em que todos os indivíduos possam fazer o que escolherem, a não ser interferir com a capacidade de os outros fazerem o que escolherem. Esse ideal é chamado anarquia, que vem do grego anarchia, o que significa a ausência de governo”. Ao considerarmos o que os anarquistas já afirmaram a respeito de si mesmos e suas ideias, parecem dúbias as caricaturas dos anarquistas que os pintam como agentes perigosos e fanáticos do caos ou como utópicos sonhadores.
É o estatismo que devemos considerar como uma posição filosoficamente extrema, porque todas as suas várias formas propõem a noção patentemente absurda e contraintuitiva de que algumas pessoas devem ter o direito de governar as outras. É difícil imaginar que uma ideia tão frágil possa ser a posição padrão na filosofia política, tanto entre amadores quanto entre profissionais — superstições e mitos mantêm a existência do estado, em contraposição à racionalidade e argumentação. Essas superstições no passado envolviam noções já abandonadas como o direito divino dos reis e atualmente englobam ideias igualmente desprezíveis, como por exemplo a de que as “democracias” são governos “do povo, pelo povo e para o povo”. Os argumentos das classes dominantes e das autoridades nunca mereceram o benefício da dúvida, é claro, mas mesmo se pudéssemos confiar em suas ideias, seu histórico acumulado de mortes, exploração e pobreza já é monumental.
Em vez de pensarem no anarquismo como uma cura para uma sociedade doente, os anarquistas veem nosso movimento como uma ferramenta com a qual avaliar os fenômenos sociais. Em concorrência com as narrativas das classes dominantes, ele nos oferece formas novas e diferentes de pensar em como nos relacionamos enquanto seres humanos.
Ao discutir as relações entre várias correntes sociais de sua época, o mutualista William Batchelder Greene apontou uma verdade importante, observando que todas eram ao mesmo tempo verdadeiras e falsas — “falsas como sistemas parciais e exclusivos”, embora “verdadeiras em suas relações mútuas”. O trabalho de Greene enfatizava o equilíbrio e a reciprocidade, buscando o meio termo, tanto para evitar o “individualismo desequilibrado pelo socialismo e o socialismo desequilibrado pelo individualismo”. O princípio guia do anarquismo de mercado, a lei da igual liberdade, tenta chegar nesse ponto — o equilíbrio que permita que o indivíduo viva em plena liberdade e preserve a comunidade.
Os libertários atualmente compreendem incorretamente a relação entre a liberdade e a igualdade e tratam os dois conceitos como incompatíveis. Libertários como William Greene entendiam que os dois se complementam, quando entendidos adequadamente. Não pode haver liberdade real sem igualdade e igualdade real sem liberdade. Por definição, o estado é inimigo de ambos; ele torna alguns “mais iguais que outros”, destruindo tanto a liberdade quanto a igualdade. Assim, o inimigo do estado — o anarquista — é o defensor da liberdade e da igualdade, do meio termo que, através da concorrência e da cooperação, conecta os interesses de todos de forma harmoniosa.