“Empregos” são falsos problemas: Os perigos do viés de criação de trabalho - Nathan Goodman

No debate atual sobre o Banco de Exportações e Importações dos Estados Unidos (Ex-Im Bank), acusado de corporativismo, estatísticas de emprego são muito comentadas. Em seu site, o banco afirma que sua missão é “prover empregos para os americanos”, acrescentando que já “apoiou 1,2 milhão de empregos americanos no setor privado desde 2009 e 205 mil somente em 2013”. A economista Veronique de Rugy aponta que esses números são uma fração insignificante dos empregos sustentados pelas exportações americanas.

Tim Carney desafia a validade desses números, dizendo que o banco “usa uma metodologia praticamente inútil para a contagem de empregos”. Ele argumenta que os subsídios do “Ex-Im Bank frequentemente prejudicam os empregadores dos EUA com os subsídios a seus concorrentes. Na melhor das hipóteses, o banco apenas desloca os empregos na economia, aumentando o emprego em algumas partes e custando empregos em outras”.

Porém, o debate sobre as estatísticas de emprego é problemático porque os empregos não devem serb o objetivo. Um emprego não é um fim, mas um meio. As pessoas buscam emprego para que possam comprar comida, pagar suas casas e adquirir outras coisas que desejam. Como escreveu Adam Smith, “o consumo é o único fim e propósito de toda a produção”.

Ainda assim, muitos medem a saúde de uma economia de acordo com seu nível de emprego, um fenômeno chamado pelo economista Bryan Caplan de “viés de criação de trabalho, uma tendência a subestimar os benefícios econômicos da conservação do trabalho”.

E há óbvios benefícios econômicos da conservação do trabalho. Suponhamos que Kevin Carson esteja certo ao prever que as impressoras 3D criarão uma revolução industrial caseira, permitindo que indivíduos e pequenas oficinas produzam bens de consumo modernos a custos incrivelmente baixos e com pouco investimento de trabalho. Isso provavelmente eliminaria vários empregos de manufatura e vendas, já que as pessoas seriam deslocadas para a criação de bens a baixo custo em casa ou em suas comunidades. Mas embora os empregos pudessem ser mais escassos, as pessoas estariam muito melhor. Teriam mais bens a preços mais baixos e provavelmente teriam maior escolha sobre o que fazer com o seu tempo.

Se esse tipo de inovação fosse suprimido, alguns empregos poderiam ser protegidos, mas as pessoas em geral estariam em situação muito pior. Vemos essa dinâmica em funcionamento hoje em dia quando rentistas utilizam a “propriedade intelectual” para suprimir a livre expressão e a inovação na internet. O infame projeto de lei de censura na internet SOPA (Stop Online Piracy Act) foi apoiado pela central sindical americana AFL-CIO, para proteger alguns dos empregos que seriam tornados obsoletos pela competição online. O projeto foi absolutamente impopular, já que destruiria um dos aspectos mais desejáveis da vida moderna. Tudo para proteger as indústrias bem conectadas.

A discussão sobre empregos é frequentemente usada para desviar recursos para a classe de empresários privilegiados. É exatamente isso que o Ex-Im Bank faz. Ele empresta dinheiro dos pagadores de impostos para corporações como a Boeing, a Caterpillar e a General Electric. Essas empresas fazem lobby em Washington e lucram muito com o militarismo e as guerras americanas.

Cada dólar desviado pelos políticos para essas firmas é um dólar alocado à força e não por trocas voluntárias. As trocas voluntárias tendem a ser mutuamente benéficas: as duas partes ganham algo que desejam com as trocas. Normalmente, ganham algo que valorizam mais do que aquilo de que abriram mão. Assim, associações voluntárias e trocas tendem a criar riquezas e a deixar as pessoas em melhor situação. Essas trocas também empregam o conhecimento tácito que os indivíduos possuem a respeito de seus valores e preferências únicos, algo que é inacessível a políticos e burocratas.

Em contraste, o estado toma dinheiro e recursos à força através dos impostos, então aloca seus recursos não àqueles que proveem bens e serviços que as pessoas desejam, mas a privilegiados pelo sistema político. O dinheiro passado para empresas militaristas de exploração do espaço aéreo como a Boeing é dinheiro que os indivíduos não podem mais usar para comprar comida, remédios, instrumentos musicais ou qualquer outra coisa que desejem. Assim, os empregos sustentados por instituições como o Ex-Im Bank são empregos que existem às custas de indivíduos que querem escolher como usar seus recursos.

O mesmo é verdadeiro em relação à abertura de novas prisões. É verdadeiro em relação aos empregos criados por gastos militares. Talvez empregos sejam criados, mas são criados com custos sérios à prosperidade e à escolha individual, além da destruição causada por institutos violentos como guerras e prisões.

É hora de parar de enxergar o trabalho como um fim em si. Devemos buscar um mundo em que podemos trabalhar menos e ter mais. Para isso, é importante que as pessoas possam se associar livremente e descobrir novas formas de produzir, trocar, compartilhar e interagir. O estado atrapalha esse processo, enriquecendo elites em nome dos empregos.