Os Estados Unidos têm uma história inconsistente com o ambientalismo. Os americanos sempre tiveram orgulho de sua herança natural. O movimento de conservação dos anos 1890, liderado por John Muir e outros, deu origem a instituições cívicas, públicas e privadas dedicadas à proteção da natureza. A revolução industrial, porém, em conjunto com o advento do capitalismo moderno, o New Deal e a explosão econômica pós-Segunda Guerra Mundial fez com que os americanos adotassem as ideias da economia do crescimento. Essa história inconsistente, de dois países opostos, chegou a seu auge na década das mudanças, os anos 1960. O moderno movimento ambiental têm seu discurso calcado nas ideias daquela época.
Esse ambientalismo moderno, movido pelo crescente movimento anti-guerras, deu origem ao primeiro Dia da Terra que foi reconhecido nacionalmente, em 22 de abril de 1970. Nesse dia, 20 milhões de americanos ocuparam as ruas, parques, campi de universidades e praças públicas para construir um movimento social em prol da sustentabilidade.
Com isso, o “espaço dentro da jaula” foi aumentado. O movimento pela sustentabilidade fez com que fosse criada a Agência de Proteção Ambiental e as leis do ar limpo, da água limpa e das espécies animais ameaçadas. Embora tenha havido progresso, permanecemos dentro da jaula.
O progresso pode ser bom ou mau, é inevitável nas dinâmicas naturais e sociais. Desde o advento do capitalismo industrial e do neoliberalismo de Reagan, o progresso tem sido medido pelo crescimento — a jaula: mais ruas, mais carros, mais governo, maiores corporações, estados-nação mais agressivos e setores financeiros grandes demais para quebrar. As próprias instituições criadas pelo movimento ambientalista moderno são partes da jaula. É claro que há pessoas muito preocupadas, dedicadas e inteligentes envolvidas na luta dentro da atual estrutura de poder, mas seus esforços são limitados pela jaula em que estão presos. Não importam quais sejam as ações tomadas em nome do público e do meio ambiente, o estado-nação continua sendo o maior agressor de todos os tempos do meio ambiente, do ar, do solo, das rochas, da água, da flora e da fauna.
Nossa espécie, contudo, é levada a fazer perguntas. Neste Dia da Terra e de agora em diante, eu peço que nossa natureza intrinsecamente inquisitora se volte para as fronteiras políticas. Por que as maiores ameaças ao meio ambiente são os estados-nação militarizados? Se devemos nos orgulhar de valores democráticos, esses valores não são a antítese da autoridade centralizada? O conceito de crescimento contínuo em nome do “progresso” dá espaço para a sustentabilidade? Não deveríamos, talvez, nos livrar da jaula em que vivemos e redefinir o conceito de progresso?
Como humanos, somos incrivelmente adaptáveis. Quando temos a chance, plantamos as sementes de uma sociedade futura que farão com que a vida na Terra valha a pena ser vivida na posteridade. Podemos liberar nosso trabalho do atual sistema econômico, descentralizar nossas instituições, respeitar fronteiras naturais como as das bio-regiões e cultivar uma sociedade na qual todo indivíduo tenha uma voz genuína nas decisões que afetam suas vidas. Essa é a luta do século 21 — a luta para nos livrarmos da jaula e tomar o controle democrático da sociedade.
A agência individual sobre nossas instituições, sociedade, trabalho, propriedade e pessoas é a práxis final dos libertários. Nessa sociedade, nós estaríamos livres para proteger nossas heranças culturais e naturais, nossas relações locais, nossas águas, paisagens e biodiversidade. O trabalho e a inclinação à liberdade libertarão a sociedade das economias centralizadas e de governos hegemônicos.
Neste Dia da Terra, que nos lembremos que os problemas complexos com que a humanidade se depara — mudança climática, fome, guerra, colonialismo corporativo, extinção animal, depreciação de ecossistemas etc — estão ligados ao sistema atual. Também nos lembremos de que temos uma resposta a todos esses problemas — essa resposta, como sempre, é a liberdade.