O empreendedor é elogiado com bastante frequência no discurso político atual. Os conservadores os consideram modelos de comportamento, exemplos da ética de trabalho protestante. Os social-democratas celebram os empregos que eles criam na economia. Os libertários de todos os matizes os adoram por sua independência e seu papel central no funcionamento dos mercados. Ao que parece, apenas os defensores dos vários tipos de socialismo estatista são antagônicos aos empreendedores.
São elogios merecidos, como explicado por Joseph Schumpeter. Schumpeter foi um economista austríaco que estudava o empreendedorismo e teve bastante influência nas ideias sobre o papel do empreendedor na economia. Os empreendedores schumpeterianos unem os recursos econômicos de formas novas e inovadoras, criando mais valor com menos recursos. Isso permite que os recursos que agora são excedentes seja usados para a satisfação de outras preferências. Numa analogia com a biologia, os empreendedores são a fonte das mutações adaptativas no mercado.
Contudo, mesmo empresários não-schumpterianos atendem a necessidades que não estão sendo satisfeitas. São os empreendedores que reconhecem uma preferência que não está sendo atendida e redirecionam recursos de preferências de menor importância para aquelas demandas mais urgentes. Uma pessoa que abrir uma loja de animais de estimação aquático não estará fazendo nada de excepcionalmente novo ou inovador, mas se seu negócio tiver sucesso, ela dará acesso a outras pessoas a bens que, normalmente, elas não teriam a possibilidade de obter. Nesse processo, os empreendedores melhoram a qualidade dos outros através da introdução dos meios para satisfazer um número maior de preferências mais importantes. Na biologia, esses empresários são análogos ao processo reprodutivo.
Uma ideia menos bem recebida no discurso popular é a da ação direta, por bons motivos. A ação direta intencionalmente contorna o âmbito do discurso. Ela simplesmente ignora a opinião pública e trabalha para alcançar seus fins fora dos sistemas convencionais, para que os ativistas possam trabalhar em prol das sociedades que desejam sem a necessidade de persuadir quem tem o poder. “Ação direta” é uma expressão nebulosa. Em seu âmbito se encontram o agorismo, greves, organização comunitária, desobediência civil, filmagens de policiais etc. Qualquer ação conjunta contra um problema social está dentro da alçada da ação direta.
É importante ressaltar que a ação direta não é defesa intelectual. Ela não pretende mudar opiniões. Parte de seu sucesso enorme em vários locais está precisamente no fato de que ela força os outros a cessarem seus comportamentos ilegítimos. Quando tem sucesso, isso ocorre não por causa da aprovação daqueles que estão no poder, mas por ser uma ferramenta que força as mudanças apesar da desaprovação do sistema existente.
Em um sentido, a conexão entre o empreendedorismo e ação direta já foi estabelecida. O agorismo busca construir alternativas a instituições opressivas pelo empreendedorismo e não se importa com a opinião de seus participantes a respeito do sistema que está sendo modificado. Porém, o empresário schumpeteriano numa empreitada agorista deve reconhecer e defender o fato de que seu negócio debilita as instituições existentes. É, em parte, por causa desse reconhecimento que o agente no mercado é capaz de perceber as oportunidades de lucro e agir como empreendedor.
A ação direta enquanto atividade empresarial tem recebido pouca atenção. O agorismo pode ser visto como uma forma empreendedora de ação direta, mas também podemos compreender a ação direta como uma forma de empreendedorismo. O empreendedorismo schumpeteriano melhora as condições sociais através da criação de valor a partir de algo de menor valor. Ele faz isso pela substituição de tecnologias antigas e ineficientes por alternativas melhores. Esse é o objetivo da ação direta, embora não através do que se entende normalmente por tecnologia. A ação direta funciona porque ela desmonta os arranjos institucionais existentes, empregando o que Schumpeter chamou de “destruição criativa”. Métodos social e economicamente ineficientes acabam sendo destruídos quando uma pequena minoria se recusa a utilizá-los como pretendido. Os novos sistemas são mais fortes que seus antecessores porque as pessoas têm menos motivos para se opor a eles. As novas regras maximizam a utilidade social com maior eficiência, dando às pessoas motivos melhores para atuar dentro delas.
Por exemplo, veja os esforços do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos ao utilizar a desobediência civil. Ao ignorar as regras legais e sociais que existiam e exigirem as liberdades que mereciam, os participantes foram capazes de precipitar mudanças sociais. Criaram um sistema no qual mais negros tinham motivos para participar numa economia dominada por brancos. Esse incentivo à destruição dos vestígios de segregação foi efetivo em evitar seu renascimento. A maioria das pessoas atualmente vê os benefícios de ter mais pessoas participando ativamente na economia. A nova estrutura é percebida como mais eficiente, tanto na alocação de bens econômicos e na satisfação de desejos sociais que sua predecessora, quanto em espaço para aperfeiçoamentos e descobertas. O novo modelo suplantou o antigo e a inovação melhorou a vida de todos aqueles que vivem sob o novo paradigma.
Israel Kirzner, outro austríaco cuja pesquisa focava nos empreendedores, destacava o fato de que os empreendedores, em sua destruição criativa schumpeteriana, descobriam novas informações. Para abrir uma empresa como um empreendedor schumpeteriano, deve-se possuir informações que ninguém mais possui. Essa ignorância “radical” é o motivo pelo qual o empreendedor de Schumpeter é importante. Ele mostra aos outros uma forma de melhorar suas vidas que era radicalmente ignorada anteriormente.
A ação direta revela informação oculta pela ignorância radical. Parte de pertencer a uma classe privilegiada é seus membros não perceberem os próprios privilégios. O privilégio cega seus beneficiados a sua existência. Graças a isso, as pessoas que sofrem em condições de opressão social devem se esforçar para convencer os privilegiados que seu lugar na sociedade é produto de sistemas ilegítimos de opressão. Infelizmente, isso é o mesmo que um empreendedor tentar convencer a todos de que eles poderiam se beneficiar de uma invenção compreendida apenas por ele próprio. Em ambos os casos, é mais fácil demonstrar a eficiência da mudança proposta. A ação direta faz isso forçando as mudanças com a construção de sistemas alternativos para seus participantes.
É interessante perceber que, de forma global, a humanidade jamais regrediu tecnologicamente. Houve longos períodos de estagnação em alguns locais e a vilanização da academia em outros, mas nunca um passo para trás coletivo. Além disso, em lugares onde de fato houve regressos, sempre houve um regime repressivo de normas culturais ou estruturas governamentais. Isso se deve, em parte, a forças schumpeterianas. Novas ideias e melhores teorias levam a uma maior eficiência dos arranjos sociais e econômicos, que levam a sua adoção. Como ocorre normalmente, é difícil colocar o gênio de volta na lâmpada. É por isso que os anarquistas têm futuro. A ineficiência do estado deverá desmontá-lo e nossas ideias estarão presentes quando isso acontecer. Até então, é nosso trabalho rodar nosso tear cada vez mais rápido para fazer uma rede cada vez mais forte. A ação direta é capaz de fazer ambos.